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quinta-feira, 3 de março de 2011

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Sentir seu corpo pesar sobre o meu. Era só o que eu queria. Mesmo você com seu um metro e noventa e eu com meus um metro e sessenta e quatro, o peso seria um detalhe. Um detalhe que eu não esqueço. A tua pele, teu cheiro, seu calor, ancas em ancas... Mas e o agora? Agora chove, está um puta frio lá fora e enquanto meus pés não esquentam eu não consigo dormir. Na verdade não conseguiria de qualquer forma, nem mesmo com cobertores elétricos. Ouço os cavalos da tropa de Napoleão, ouço o arrastar de móveis dos vizinhos, a gotas baterem forte na janela, como que impondo a saudade.
Ouço tudo, menos tua voz, tua respiração, seu gemido. Aliás ouço: teu silêncio, tua pressa... Você me sente? Levanto da cama, não tem jeito, não vou dormir mesmo. Abro um livro numa folha qualquer, procurando uma resposta enigmática, e o autor, não importa, diz: "Atira a maçã para cima, recebe-a de novo, indecisa, num movimento que quase descobre os seios. As pernas compridas, um pouco brancas demais. Os olhos talvez meio estrábicos. Mas a cor? Que cor? O gesto antigo de afastar um fio de cabelo inexistente.
- Vá embora - ela diz.
Visto a roupa devagar. Começo a descer as escadas.Não olho para trás. De que adiantaria olhar? De que adianta olhar?
Vou desviando das poças sujas da chuva de ontem. O asfalto esburacado. O céu cheio de fumaça. E de repente uma maçã espatifada contra o cimento. A carne madura demais espalhada em torno. Não há nada a dizer sobre ela, não passa de uma maçã morta" C.F.A
Cacete por que as coisas se fazem complicadas. Você tem medo de ir fundo em você? Eu tenho medo e de encontrar um demônio muito indomável e deixar ele tomar conta e enlouquecer, ufa!
Sinto um frio que vem de dentro, surge em algum lugar escuro e quente, segue os impulsos nervosos e se instala na flor da pele, e sinto percorrer cada centímetro que um dia seus dedos longos tocaram. Que importa? Você se importa? Você não sente esse cheiro de egoísmo? Eu sinto e fingi não sentir, me anulei por teu medo. Você não diz nada, o silencio não basta baby.
Agora não tenho sono, nem nada. Me resta um Budapeste e uma Felicidade clandestina. Me resta talvez morrer seca como a Clarice. E você? Me manda ser feliz. Com que armas vou a guerra, meu Quixote? Talvez terra arrasada funcione.

5 comentários:

  1. Este é talvez o teu conto mais triste. E o primeiro, na minha memória, que abre caminho para uma oculta sensualidade feminina. Gostei muito do início com nuances de erotismo : ela sentir o corpo do homem como desejo que pesa,detalhe que ela não esquece. “A tua pele, teu cheiro, seu calor, ancas em ancas...” A sensibilidade do corpo de uma mulher que não quer se sentir sozinha naquela noite, as idéias vindo do corpo, os sons de fora que se ampliam, e até o trecho do livro que lê fala de um movimento que quase descobre os seios (da personagem do livro que a personagem lê).” Eu tenho medo é de encontrar um demônio muito indomável e deixar ele tomar conta e enlouquecer, ufa!Sinto um frio que vem de dentro, surge em algum lugar escuro e quente, segue os impulsos nervosos e se instala na flor da pele, e sinto percorrer cada centímetro que um dia seus dedos longos tocaram.” A autora abandona um pouco a intensidade dos diálogos dos contos anteriores e deixa fluir o erotismo feminino, uma sensualidade que se intensifica com o abandono , quando o que ela mais queria era ter junto a ternura do corpo do seu homem. Sentir o leve peso de um amor presente. O silêncio do homem não basta mesmo. Ele já saiu e ela faz acusações de egoísmo.Ela é uma maçã no escuro. Até o livro que lê tem a maçã que roça o seio e depois se espatifa no asfalto. A personagem relê Caio que revisita Clarice. A mulher sofre, mas a Felicidade Clandestina de C.L. mantém esse amor subterrâneo,escondido nas sombras como anti-heróis de filmes noir ou como guerrilheiros tentando transformar em terra arrasada as ditaduras nos anos de chumbo. No oculto do que fica clandestino ,o amor por AQUELE HOMEM é a chama da felicidade , o fogo do prazer, o tomar o céu de assalto.Quando ele voltar... se ele voltar...
    Talvez a tristeza seja a beleza da vida. E nessa mistura uma mulher desejou pra valer o corpo de um homem. Pela primeira vez num conto da autora. A literatura erótica agradece, Daniii. E te acolhe esperando frutos tão bons como este. E colheitas mais ousadas. Ou não é nada disso e eu é que sou um obcecado pela sensualidade à flor da pele ?

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  2. Quanto mais apagar, mais irei falar sobre as coisas que sei Pode ter certeza que vou fazer minhas mensagens chegar aos destinatários corretos Se é que você ira entender

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  3. http://letras.terra.com.br/jorge-ben-jor/75518/

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Apesar dos pesares, gostei do conto babys, de verdade...Parabéns!
    Só dou risada da pessoa de caráter pequeno que fala um monte de merda e não tem se quer a dignidade de mostra a cara. Pra essa só meu desprezo, filha de uma puta!
    HUhauhauahuahuauahuauhauhahuaha
    Continua assim Dani, ta evoluindo bem seus contos!
    'E do nosso amor, a gente é quem sabee, pequenaa' rs ;)
    Bjooo Danii

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