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domingo, 1 de maio de 2011

Trust in me, baby.

Mais um dia, outro dia, novo dia. Mas, o que ele tem de novo? Nada. Ela acorda pontualmente ás 7:07, toma café, não penteia os cabelos e vai trabalhar. Pega dois transportes públicos, que pra variar são cheios de tarados desinteressantes, e quando lá chega tem que aturar o chefe, que pensa que por status ou dinheiro ela renderá as pernas, a pele e as carícias. E o pior de tudo, ele geralmente escosta nos cotovelos dela e olha enquanto ela boceja, duas coisas que, para ela, são extremamente irritantes.
Trabalha o dia inteiro sob os olhares dos machos de plantão. Que são estranhamente atraídos pelo não-sorriso da moça. Que teria ela na cabeça? E os mais safados diziam: "Quieta desse jeito... deve ser quente na cama." E o chefe pensava: "E se eu aumentar o salário?"
Só existia um momento que ela sorria. Que contarei mais tarde.
Todos contavam os segundos para que o expediente terminasse, mas ela contava muito mais ansiosa, que todos os trabalhadores do mundo juntos; pois queria abrir seu único sorriso do dia. Mas não podia ser ali.
20:00, e ela sorria por dentro: acabou!
Sentia-se melhor nos ultimos dias, pois agora conseguia falar com seu único ex-namorado e não dizer: "Não posso mais viver sem você". Isso era bom, depois de tanto tempo chorando sem sorrir no final, tinha ela alcançado uma meta. Tudo bem que era uma pseudoindependência... Mas não dizem que uma mentira em que se acredita vale muito mais que uma verdade desagradável?
A verdade? Ela quer tanto esquecer... Mas como a moça não sabe que eu existo vou contar: ela ainda não sabe viver sem ele. Talvez sobrevive, mas engana todos muito bem.
Tira os sapatos, o vestido, a calcinha bege e entra no banho. Sai com os cabelos molhados e percebe que precisa corta-los. Não que estejam grande, mas quando ela sente ele nas costas é sinal de que já passou da hora passar a tesoura. Poe o roupão e dispensa as pantufas que havia ganho dele. E coloca pra tocar "Trust me", chora no todo decorrer da musica, e quando acaba o som e seu rosto está encharcado ela vai até o espelho e sorri.
Coloca o mesmo filme de sempre, pois assim consegue dormir. As cenas repetidas todas as noites dão sono. E ela se sente tão sozinha.

12 comentários:

  1. Vejo em demasia a pseudomulher do homem neurastênico nesse conto. Entretanto... queria estar errado... ou não.

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  2. Quantas vezes já fez essa pergunta a si mesmo?

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  3. Na verdade nenhuma, porque fiz o conto e não pensei em que tipo de mulher ela seria, mas prefiro pensar que o homem neurastênico deixou ela assim, e não ela deixou o homem neurastênico. Tomo partido das minhas personagens,rs.
    A gnt se conhece anônimo? Dostei da sua observação, mas vc ainda não explicou por que vc queria estar errado...

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  4. Os contos são sua vida e como já disse desista. O de sempre!

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  5. Não, querido anônimo que nem tem coragem de dizer quem é. Os contos são contos, se vc não sabe que existem autores e personagens é um problema inteiramente seu :] Os contos são minha vida porque gosto muito de fazê-los, mas não são biagrafias. Enfim.

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  6. Não se deixei enganar. Não acha estranho o tom cair tão drasticamente?

    Vou ter reivindicar o anonimato... Que engraçado... Anonimato uma vez perdido nunca mais é recuperado. Enfim, respondendo suas perguntas.

    ... Não nos conhecemos Mlle. Dany.
    ... Queria estar errado, porque como você toma partido das suas personagens, eu por minha vez, tomo o partido do homem neurastênico, que apesar de eventualmente se parecer comigo, foi um personagem criado ao acaso. Fico pensando que na maioria das vezes quando criamos personagens fortuitamente, colocamos sem perceber muito de nós nessas criações imperfeitas. Talvez você padeça do mesmo sentimento da sua personagem (acho).

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  7. Sabe, tudo bem anonimo, se vc quer se manter sob segredo. E realmente, se não nos conhecemos vc não pode afirmar que tem algo de minha personalidade nos personagens. E de verdade, isso me ofende, pois se isso for verdade eu não sou boa pra escrever, e não chamaria de contos, e sim diários. Já pensei mil vezes em deixar os anonimos falarem e não responder, porque eu to aqui exposta, respondendo de boa vontade, mas algo que não sei o que é, me faz ter vontade de responder á vc. Estranho, assim como essa certeza de que nos conhecemos sim. No minimo, pra termos um papo de verdade, diz quem vc é, como conheceu o blog, e eu vou explicar muito melhor a natureza desses contos pra vc.

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  8. Não era o meu objetivo lhe ofender, de maneira nenhuma. Não escreves mal, do contrário não perderia meu tempo aqui, se estou aqui é porque me deleito com os seus contos.

    Você se contradiz, se acredita de verdade que a conheço, então me de a liberdade de fazer uma alusão da personagem com sua autora. Eu posso estar errado e ter me precipitado. Mas se de fato estiver, negue que não tu padeces de saudade, de algo ou alguém, que não sei o que ou quem é. Mas não se zangues, com esse humilde anônimo. Só isso, não lhe peço mais nada e em breve você poderá me explicar à natureza de seus contos.

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  9. ok, mas o fato de ter saudade de algo não significa que escrevo sobre mim. Pode ter algum traço, concordo que toda obra tem algo de quem faz. Em breve quando?

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  10. Um dos contos mais femininos dessa Clarice Lispector adolescente. Os homens sempre presentes : como “tarados desinteressantes” (ela desejaria um tarado que fosse interessante interessante?) , o imaginar os homens no trabalho fazendo pensando como seria ela,tão silenciosa,na cama, e o chefe pensando que,talvez, uma oferta de salário e ele poderia fazer a calcinha bege deslizar pelas pernas . Dá a impressão que ela é uma ilha cercada por tubarões famintos de sexo.Mas na volta pra casa, a moça pensa que se sente melhor porque já consegue falar com o ex-namorado.A autora entra em cena e tira a máscara da personagem. Persona. Ela não sabe viver sem ele. Preocupações femininas com o tamanho dos cabelos molhados, a música que a faz chorar o tempo todo,o sorriso para o espelho: duas faces da mesma mulher, surpreendidas as duas faces por outra mulher. Depois,o sono não vem,o mesmo filme, a mesma Danielly com seu talento de expor feminices e solidão de mulher.

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  11. ¹⁶Foi aqui que comecei e aqui termino o jogo de procura do anônimo, que já não é mais anônimo. Não achei que essa brincadeira renderia muita coisa, contudo, acabou que durante duas semanas você teve um leitor assíduo que a todo instante procurava ver algum novo conto, ou mesmo alguma postagem nova, para que tivesse um pretexto a escrever, e provocar a sua curiosidade de algum modo, mas nunca visei ocasionar a discórdia entre ninguém. Então, peço desculpa pela brincadeira e por todo mal que ela causou.

    Gosto dos seus contos Pinguim, asdkasodkaso, brincadeira Dany. Continue assim que terei o maior prazer de futuramente comprar um livro seu e dizer a todos que um dia conheci essa escritora.

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