Powered By Blogger

domingo, 8 de maio de 2011

É de lágrima.

- Alô?
- Fala Marcinha!
- Então Hugo, queria te pedir pra fazer a feira do restaurante hoje. Meu filho acordou com febre e quero levá-lo ao médico. Sou mãe solteira, você sabe como são essas coisas... Pode ser?
Ele não sabia como eram essas coisas - não tinha filhos. Mas como recusar? Respirou fundo e então:
- Tudo bem, eu faço a feira. Tem muitas reservas pra hoje?
- Ah, tem algumas. E tem gente importante hoje...
"Que saco, nem conheço o famoso filho da puta e tenho que me referir a ele como importante. Importante por que? Importante pra quem?" Pensava toda vez que ouvia isso.
- Ah sim... Você vai demorar pra chegar?
- Antes do jantar já estou lá. Muito obrigada mesmo Hugo.
- Ok, beijo.
Que chatice! Trocou de roupa, pegou a chave do carro e saiu. Eram 09:00.
Levou todas as sacolas pro restaurante, guardou tudo e foi pra casa esperar a hora de voltar. Em casa ele treinava, pra não perder o costume, o falso sotaque francês. As vezes sentia-se entediado por conta do constante teatro, mas tudo bem, por seu sonho, dizia tudo bem.
17:00 e ele sai de casa outra vez, agora já com espírito afrancesado. Chega ao restaurante e Márcia já estava lá. Pelo menos isso - pensou aliviado.
- Acho que vou pedir pra que você faça a feira todos os dias... Fez tudo certinho.
- Ah bela piada! Não basta a correria da cozinha?
Os dois riram e seguiram pros seus postos. Ela na recepção, ele na cozinha.
Por uma janelinha aberta na cozinha ele conseguia ver a maioria das mesas do salão. Os pedidos não paravam e ele tinha que coordenar o pessoal e visitar as mesas dos clientes... Mas um casal que acabará de chegar o fez parar. "Era ela? Mas não, estava muito diferente... Mas são os mesmos olhos."
- Marcinha! Marcinha!
- Que foi Hugo?
- Quem são eles?
- Ah um empresário famoso... lembra, o cara importante que te disse pela manhã no telefone.
- Hum... E ela?
- Deve ser a namorada oras. Pelo amor de Deus, não é hora de flertes!
- Não, não. É que ela me lembra uma mulher... na verdade uma menina. Mas é besteira, devo estar me confundindo.
- Olha só o pedido deles. Tenta dar uma adiantada e visitar logo a mesa deles, está bem?
"Mas será? São os mesmos olhos, as mesmas bochechas rosadas... Preciso saber se é ela, e como veio parar aqui." Sentia um queimor por todo corpo. A mulher que por anos tentou esquecer sem sucesso estava ali bem a sua frente e com um cara "importante". Sim. Era ela, não havia mais dúvida. Era ela, a mesma que o havia feito chorar todas as noites, todos os dia 09 desde que se fora. " Eu é que vou preparar esse prato!" Anunciou à cozinha. Foi ao canto mais escondido e chorou. Chorou muito preparando o prato do casal. "Eu mesmo levo!" E foi, com passos inseguros, os olhos vermelhos servir-lhes.
Olhou bem fundo nos olhos dela, e ela o reconhceu. Mas não deixou nenhuma palavra escapar. Percebeu depois, de longe, que ele passava a mão no rosto dela, como quem pergunta se há algum problema, e ela balançando a cabeça negativamente.
Começaram a comer, e ele fez um gesto chamando Márcia.
- Querida o prato está muito salgado.
- Só um minuto senhor, vou chamar nosso cozinheiro.
Márcia veio apressada e Hugo sabia muito bem o motivo.
- Hugo, teve algum problema com o prato... Tenta enrolar eles. Sei lá, diga que é uma técnica francesa... ou coisas do tipo.
Ele foi andando, agora seguramente do que fazia.
- Pois não senhores?
- Notamos o prato muito salgado.
Ela mantinha a cabeça baixa.
- São lágrimas.
- Ah sim... Que? Como disse? - o homem perguntou achando ter ouvido errado.
- Lágrimas!
E percebeu nos lábios dela um tremor no canto da boca.

Nenhum comentário:

Postar um comentário