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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Clara e o conhaque

     Aqui estou eu na Cidade do México, com um dinheiro que preciso trocar pela moeda local... Não sei quanto vai dar, ou para o quê vai dar, a minha certeza é a de que é pouco. Vou precisar arranjar grana, não sei como, mas depois dos últimos acontecimentos, dos quais agora não quero falar, aprendi, não tão facilmente quanto possa parecer, a viver um dia de cada vez, a não pensar demais no amanhã. Falando nesses passos pequenos e um bocado despreocupados que penso em ter neste novo velho lugar, que minha memória teimosa diz conhecer de algum outro tempo, lembrei do mito de Porthos, aquele que ao pensar, pela primeira vez, como podia o cérebro comandar um pé atrás do outro, para que pudéssemos andar, paralisa e morre soterrado numa adega. Gosto de mitos.
     Enfim: só por hoje tenho uma garrafa de conhaque barato, do qual muito bebi com ela pra afastar o frio das crises de abstinência; um quarto todo forrado de carpete vermelho, que faria ser desnecessário o conhaque para espantar o frio, mas ele por sua vez se faz amigo presente porque me anestesia, assim como a minha companheira a droga, assim como a mim ela com sua presença. Há também um telefone, destes que ela queria comprar se um dia pudéssemos comprar algo que não cigarros, drogas e bebida. Nele posso pedir algo, não sei, talvez uma sopa. Teria sopa no México? Não sei, nem saberei, não sinto fome, apesar da dor no estômago.
     A ultima vez que a vi sóbria, meu amigo, foi o dia mais triste, suponho, da vida dela. Seu ex-marido veio lhe mostrar uma foto de seu filho e lhe contar de sua preocupação. Ela e eu, que observava de longe, no outro lado do bar, sabíamos qual falsa era aquela conversa. O velho diplomata, com o qual ela perdeu parte de sua juventude estranha, a fazia cavalgar nele e em cavalos de raça. A fazia seguir seus conselhos de “não beba tanto, querida. Não fica bem pra uma mulher linda como você”. A fazia ter postura ereta e assistir aulas de etiqueta com uma senhora estranha... Tudo isso ela me contava depois do nosso sexo, na nossa Bagdá, nas nossas não regras, nos nossos silêncios, porres e barulhos.
     O passado dela não se apagava, a não ser quando parte dela ia embora, quando a razão não se fazia presente, não era ouvida. Quando a racionalidade evaporava através de sua pele clara, manchada no peito de sardas, quando saia a razão pela sua boa surda pintada. É triste que sua ultima imagem- aparição tenha sido pautada pela sobriedade e pela, tão detestada por ela, razão.
     Depois do bar, ela ainda triste sem uso de nada que a fizesse escapar do passado marido e do presente filho, pediu pra que eu tocasse sua musica preferida. Toque, ela chorou, choramos; e com o dorso da mão, da mesma mão, enxugou o seu e o meu rosto. Disse algo muito baixo e levantou-se arrumando por debaixo do vestido a meia- fina preta queimada de cigarro, e agora alto: “Preciso ir, tenho que fazer uma entrega, ando sem grana pra nada e não quero mais que pague o que uso. Eu te amo, meu Xenofonte, não duvide, nem esqueça.” Foram esses os últimos sons e ordens calmas que saíram de sua boca, que nesse dia estava branca, como há tempos não ficava.
     Dias, semanas, meses. Não minto, não faço drama, foram sim meses. Não sai do quarto, com medo de ao ir comprar cigarros me desencontrar dela, perder sua volta. Aos poucos sentia que o pacto que fizemos uma noite, sentados na rua, ia se desfazendo perdendo sentido, não porque esqueci e duvidei do amor que fez de nós raízes entrelaçadas e unidas desgraçadamente, mas sim porque sentia que a existência física e espiritual dela iam- se dissolvendo e escapando de meus dedos a cada vez que angustiado pela falta de tudo, dela, de mim, da bebida, da droga, da presença de algo, dos gritos, de suas mãos machucadas de socar a parede... de tudo jogava uma água gelada em meu corpo quente desse verão fétido que fez nos meses que Clara sumiu.
     Clara sumiu. Eu desisti e duvido de sua existência agora. Não, não estou caindo em contradição, o passado é meu amigo fiel, que não tenta aliviar minhas dores. Vivo em função do que existiu e não existe. O presente é este aqui, em que fumo e escrevo esta carta à você, pra pedir, não em nome do presente, mas do passado- futuro, dessa tese macabra, pra que se você a ver em algum lugar, boca vermelha, branca ou verde, pra que se você ver seus cabelos negros que sempre entravam intrusos como ela em nossos beijos. Avise que a amo, e que se ela vier, não sairei de casa nem um só dia, até que por essa porta, na entrada dessa ponte, no diabo a quatro, ela entre com uma garrafa de conhaque barato segura por seus dedos caros.
  

domingo, 18 de agosto de 2013

Voy.

     Esse líquido é azul e irá se tornar amarelo.
     Freud, Victor Hugo, todos vocês, não ousem teorizar meu sentimento, minha melancolia. Tire as mãos,   tire os olhos de mim!
     Estou na aula de química: O líquido azul, o líquido amarelo, o professor gordo com cheiro de merda na boca. A menina de cabelo loiro longo, o menino de óculos, que tem cheiro ruim de boca por nunca abri-la nessa selva, ao contrário da do professor. Os seios grandes, as pernas grossas, a bunda boa.
     Eu. Nariz grande, fala nordestina, poucos peitos, muitos pelos. Roupa pobre, cabelo bagunçado e muitas vezes sujo. Unhas curtas, nunca pintadas.
     1984, Pagu, Beauvoir. Vocês não me pegam mais. Não mais. Pequenos e meus, peluda e minha, suja fedida e completamente minha. Eu transo, eu como, eu meto. Eu amo, desamo, quero e não mais. E um pouco menos. Na curva, na loucura, na nudez, no nervosismo, sinto que posso voltar. Sair, no entanto não totalmente, do alerta que criei, contei e paguei. Da defesa que veio de cima pra baixo, do duro pro buraco quente (incerto, feio e medroso).
     Dos grandes lábios, do sangue de menstruação que você chupa, do vômito que você limpa, do cocô que faz na minha frente jorra gozo de vida, de realidade, de companheiros, lágrimas e banhos não tomados. Não falo de vulgaridade. Aliás falo, e o que vocês querem com isso?
     Estou, nas quatro paredes daqui. No cigarro que apago no copo cheio até as tampas de cinzas, estive feito o copo. Poucas cinzas, de repente tantas. Está, no cheiro de suor do travesseiro, nos livros que empilhamos, nas cuecas que uso, na mesa que trabalhamos muito pouco, na cama que transamos, choramos, brigamos, discutimos, rimos. Nossa cama? Não sendo vulgar em falar de gozo e cocô, sou burguesa falando em cama que dividimos?
     Companheiro, de cabo a rabo, meu companheiro, basta que nós saibamos que não. Basta que sua unha grande me sinta, que sua alma me chegue, que nos desentendamos para depois beijar, amar, afagar e consolar.
     Comecei numa coisa, terminei noutra. Nunca se sabe o sentido de Saturno, mesmo sendo filhos da melancolia. Não me falem em coesão, em razão, em sentido, pois sou azul, que poderia ser amarelo, mas é vermelho. E quem, quem poderia prever qualquer uma dessas coisas? Se até as palavras, criaturas duras e vezes opressoras no seu sentido natural, são incertas.


sábado, 6 de abril de 2013

Ouso.

"Nessa cidade tem uma rua, que eu não posso mais passar."
Toda minha liberdade quadrada, de manter minha pouca castidade, espalhando bocas, pernas que abrem e fecham a cada segunda e quarta-feira é resultado de um medo de ver uma boca perder a necessidade de "matar a sede na saliva".
Toda essa liberdade gasta com bocas de plástico ficou cansada, perdeu sentido ao ver, numa esquina, seus cabelos e olhos; numa casa ao ver sua boca rígida ao cantar.
Toda essa liberdade tornou-se redonda ao ver o quão maleável ela pode ser, ao ouvir um cético, quase biológo, mas filósofo, que disse convencido numa música secreta, pra sentarmos, e com seus lábios grossos e roxos de cigarro e frio:
- A boca sempre está suja, sempre produz saliva. Aliás sempre precisa de saliva. Ele precisa de você, tem sede de você e você a quer matar. Mate-a. Mate-a dócil e docemente
Agora seu dedo de toque de cordas arranha minha meia- fina preta, intromete-se por debaixo da blusa que fiz de presente pra você (mas que uso), esquentando com arrepio frio.
Ele pega a "faca cega" com "fé afiada", abre a lata de cerveja: "- Cuidado!" - e faz um cinzeiro que inauguro batendo a unha azul no filtro branco.
Aqui agora não preciso de nada. Fiquei velha para a minha falsa pouca castidade assim que te vi de perto e andei contigo no meio fio dessa cidade, que posso e ouso passar entrelaçada com/em você

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Vamos.

Aqui te esperando, com uma hora de antecedência observo o amor, como o observador de "O amor bate na aorta", de Drummond. Que do alto de algum lugar tece considerações acerca do bicho instruído e encantador que chamamos, inutilmente, de amor.
De pé e com vontade contida (pela lei do transporte público) de sentar, fico, a princípio impaciente com a hora que demorará pra passar, pois nem ao menos um cigarro posso acender. Dois homens de amarelo despedem-se em minha frente, olho por olhar, eis que vejo que se trata de um casal, que como eu, com vontade de me esparramar no chão de pedra fina, se contiveram na despedida: um tapa nas costas, aperto de mao londo com corpos timidamente encostados. Quando eles querem, na verdade, esparramar o amor, o beijo e a saliva sem medo de olhares estranhos.
 Uma fome enorme, acordei de ressaca e mal consegui fazer descer o pão. Por algum motivo nesta manhã pensei ter um filho na barriga. Um filho teu, coisa que você não quer. "Bobagem", pensei no instante seguinte ao forte enjoo matinal, é ressaca e ponto.
Mas não é sobre mim que escrevo. Sou aqui um obseervador do amor, entretanto, precisarei novamente me colocar nessa história. Estava falando na fome, e ao sair da estação de metrô dou de cara com um amor desgarrado, pouco verdadeiro. Um amor que corrói, enquanto por natureza é corroído e que tem por amigo inseparável a aparência que esconde a vontade de pôr inseticida na comida um do outro.
Um casal sorridente e loiro, uns 40 anos, entra no shopping, na qual fui comprar uma coxinha e um café, sorrindo, sorrindo muito. Não um para ou do outro, mas os dois (separados) para os outros.: volto descontente com o amor reprimido do casal homossexual e com o amor plástico do casal de cera.
Olho em volta, nada de você, já se passaram uns 25 minutos. Uma menina de uns 16 anos espera impaciente alguém. Dez minutos: ela chega, era sua companheira, se beijam, se abraçam e não sentido Jabaquara de mãos dadas e sorrido aberto. Sorriso de criança, Coragem de adulto.
Observando esse amor nem vejo quanto tempo decorreu. Penso nas duas meninas: sempre quis transar com uma mulher, mas nunca houve essa mulher, mas há uns dias atrás que vi olhando a Betina com olhos diferentes.
O amor, o desamor e o amor plástico se misturam em minha cabeça me causando um mister de sentimentos, um turbilhão sensorial, que me entra pelos olhos e instalam-se em algum canto do cerébro. Uma nova onda de passageiros surge do subterrâneo e você vem entre eles: guarda- chuva em mãos, mochila nas costas, sorriso com dentes de criança na boca: me beija levemente e olha interrogativo para os papeis desse conto, respondo: cheguei cedo demais e vi coisas demais.
Você sorri e encosta em meu ombro e diz: - Vamos?

terça-feira, 2 de abril de 2013

Azul - Vermelha.

Uma mochila pesadíssima, uma bolsa a tira- colo colorida, e eu, com costas doloridas pelo peso, cruzo o caminho, as paralelas de uma senhora de cabelos curtos e boca cor-de-rosa. Ela, a senhora, sorri e eu o retribuo com outro sorriso até que a porta do metrô abra e, em meio a dança de pessoas em disputa de um banco marrom, sentamos frente-a-frente.
A partir desse momento, do "sinal de fechamento das portas" é como se para ela eu não existisse mais. Existo, é claro, ou talvez... Mas não como protagonista dessa cena. A senhora, nervosa a beça, começa a fazer careta de desgosto para as informações da tela do metrô e dos anúncios fixados nas paredes do vagão. Se pergunta: "Tudo bem?" e se responde: "Oh sim, sim! Vamos indo."
Um homem de gravata e mala entra. Mal senta no banco quente recém livre e já saca papéis com planilhas, traços e números. Ela: "Hum. Um advogado... Não, não! Um gerente. Isso!" Uma mulher entra e traz consigo, junto ao peito muito pequeno, uma sacola de feira, com panos dentro. A senhora, descaradamente a encara e ela, por sua vez, nem percebe o olhar analítico da velha senhora com boca cor-de-rosa: "É uma mãe... Três filhos." - com rosto triste: "... E um marido bebado."
A essa altura você pode se perguntar: e falava alto a senhora?
Não sei. Sei que era audível pra mim, e assim deveria ser. Faz mais caretas, gesticula muito e olha à todos, menos à mim. Em nenhum momento, após o inicial sorriso na plataforma, ela tenta me analisar. Todos a olham, mas o curioso é que os olhares dela não encontram de forma alguma o de ninguém. Ela, sentindo-se invisível/ imperceptível em sua analise acerca dos outros passageiros e eu, sentindo-me igualmente invisível/ impeceptível analisando e escrevendo sobre ela, descemos. Ela na Praça da Árvore, eu na Sé.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Mão dupla/ Coração Selvagem.

"Um sorriso, e basta, fico nervoso acendo um cigarro: sim, um simples cruzar de olhares em meio à rua e os dentes dela se mostrando, entre lábios muito vermelhos bastam. A primeira vez que a vi, foi na fila do ônibus, ela passou com textos nas mãos, lendo tudo com ar atarefado e eu, logo acendi meu cigarro. Uns amigos chegam, e ela com um jeito sempre muito carinhoso, abraça à todos.
Agora, tudo isso é surreal, aqui está ela, deitada nua. Aqui eu estou, entre suas coxas brancas pintadas."

"Nos cruzamos sempre, temos amigos em comum, mas só trocamos sorrisos. O jeito, muito sem- jeito dele, me encanta toda vez que por acaso nos encontramos nas ruas dessa cidade. Os olhos de um azul não- banal, profundo pra caralho, melancólico, vivo e com pressa de viver me arrebata o peito frio. Os cabelos sempre muito bagunçados de Kurt: sempre quis tocá- los. Aqui eu estou, entre seus cabelos loiros e grandes."

Numa esquina num lugar comum, o coração selvagem encosta nas costas dela de uma maneira forte e quente: "Não vá embora, vou cantar Baby pra você ficar." Ela não fica, entretanto, seus olhos enchem de lágrimas, queimando e virando sal no rosto quente de tanto beber, ao ouvir a canção que tanto gosta.
Numa outra esquina, incrivelmente próxima, os lábios dele pedem o batom vermelho da boca dela, os corpos se comunicam como nunca, os dedos dele calejados pelo violão, passam fazendo algo como música quando ela está com roupa, e algo como um carinho nato e bruto, quando nua. A cabeça no peito selvagem dele, escuta o bater muito rápido do coração. "De fato, um coração selvagem" - ela brinca.
A história é tão inocente e quente, tão latino americana, tão Rock N Roll, tão samba calmo que cabe num abraço desajeitado e no olhar marejado de expectativas boas, sem enormes cobranças. Um sentimento que divide pra se multiplicar: "Olha, tenho duas blusas muito especiais, uma do meu pai e outra que meu avô achou na rua... As duas tem um buraco pra por o polegar, uma porque descosturou, outra queimei com cigarro."
Depois do sexo simples e que a emocionou de um jeito muito diferente, ela pede: "Ei, me dá sua blusa queimada com cigarro?" Ele com admiração sorri com seus dentes de 5 anos de cigarro, de peito selvagem: "Claro!". Os dois dormem, de pernas entrelaçadas, com cabelos suados, com dedos que cheiram aos muitos cigarros fumados no quintal de ceu aberto, ceu testemunha da dança, dos desejos, das angustias daqueles dois corações.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Alívio imediato.

Da sala de aula vejo uma festa ser preparada. A provável mãe, de lenço verde- escuro nos cabelos, creio que grisalhos, varre sorrindo o terreno. Três meninos de uns 16 anos carregam mesas e cadeiras de plástico branco. Dois meninos, primos ou irmãos, empinam pipas sob o sol, com olhos apertados buscando ver no alto- céu a pipa colorida, ou não, pois daqui, o corte do concreto da janela não me permite vê- las.
Um muro de tijolo vermelho não me deixa ver o que tem sobre a mesa, minutos antes levada, mas sinto a boca aguar em pensar na maionese e no arroz de forno. Fios cortam a paisagem. Fios que repelem e aproximam. São eles fios de telefone e de internet, encurtando distâncias através do imaginário. Mas são também fio de eletricidade que alimentam a TV, que faz o pai não ter muitos olhos pro filho. Energia que faz pais e filhos seguirem cada qual para seu isolamento.
Aprendemos nessa aula a vida que fora vivida. E para isso, deixamos, penso eu, de viver a vida. Vejo um casal, numa janela aberta naquele muro vermelho, que se beijam e se amassam sem pensar na vida teórica que se ensina e acontece dentro do prédio feio- cinza. Enquando eu aqui, de dentro dele, imagino a vida vivida sem teoria desses dois e dos muitos da festa.
Nos preparativos da festa um homem sem camisa e portando um colar grosso, o suficiente pra ser visto daqui, abre uma lata de cerveja. Não posso ouvir dessa distância o barulho do lacre rompido, nem o gelado refrescando sua língua- garganta. Mas teorizo sobre o som, a sensação e a necessidade do lacre ser rompido, causando alívio imediato.

quinta-feira, 7 de março de 2013

A Tempestade.

A garoa começa.

- A gente pode subir, tenho um cigarro de palha.
- Opa, vamos a chuva vai apertar, e um cigarrinho sempre vai bem.
- Sim - ela responde calçando o chinelo, pondo-se de pé sorrindo.

Balanço das mortes, América latina em luto, companheiro! Um cantor, um revolucionário.
- Os dois fazem parte de coisas tão boas na minha vida...
- De uma geração - ele num tom encantador de quem cresce mas não deixa de sonhar.

Ela canta:
"Eu quero estar amanhã do seu lado quando você acordar, eu quero um sonho realizado, uma criança com seu olhar."
- Olha só, olhos de criança, que música mais você. - ela.
- É, só falta você aceitar dormir comigo hoje e acordar amanhã ao meu lado.

Ela ri: - Sério?
- Muito.
- Bom, preciso pegar dinheiro e deixar umas coisas em casa, você me espera?

As esperas, os encontros, os dedos sedentos que se procuram, os corpos que são, cada vez mais chamados ao contato, ao encontro, à junção.
Ela chega, ele vem:
- Vamos?
- Claro.

- Posso lavar o rosto?
Ela volta com a pele fresca. Ele com três copos de água. Os corpos quentes na noite quente não tem pressa infantil:
- Meu, tenho um livro com fotografias do Fidel.
- Me mostra, olhos de criança!

Ficam um tempo que ninguém saberia precisar quanto, afinal o tempo dos relógios de parede, braço e bolso não são familiarizados com o furacão dos corpos, com a vida que não vale dinheiro ou endimentos. O tempo naquele quarto era tão importante quanto a poeira dos cantos que ninguém nunca limpa. O desejo, o compartilhar de cama, suor, sonhos, angústias, saliva, toques e olhares não são temporais, são cósmicos e ultra humanos.

Ele começa a brincar com os joelhos dela, ela com as costas dele, desenhando com suas unhas curtas, sem cor, sem forma especifica desenhos infantis. "Unhas descuidadas" diz sempre sua mãe, que porta unhas exuberantes.

Aos poucos os corpos se pedem e gritam um pelo outro. Ela mordendo a cintura branca e branda dele, ele se contorcendo devagarzinho, ela sorrindo vai subindo o encara e sugere uma homenagem a quem cantava os olhos de criança, os amores de criança, as loucuras de criança. A vida vivida intensamente, os valores certos mesmo que imorais:
 - "O dom é ver o que se faz, mas ela gosta de transar no escuro. No escuro a coisa ferve mais." Conhece essa dele?
- Não, mas a homenagem é mais que bonita! Vamos no escuro.

Ela num esforço de apertar o interruptor, encosta o seio no rosto dele que os morde. Ela brinca:
- Daria uma bela foto.
- É daria.
Luz apagada. Luz elétrica. Mas A tempestade, faz com que luzes entrem pela janela. "No escuro a coisa ferve mais". O gozo dentro dela, todas as pulsações sentidas, uma a uma. Sede, que é por eles matada na saliva e três copos d'agua. Ele deita, ela deita, corpos nus suados, lado a lado na cama iluminada pelos raios de uma Tempestade bem vivida.

-Um cigarro?
- Sempre.

Dormem: ela com o corpo agitado, ele acariciando sua bunda: "Eu gosto de bunda, aliás gosto de tudo numa mulher".

"Eu quero estar amanhã ao seu lado quando você acordar"
O pai liga: "Olha entra a noite na internet, estamos com saudades e queremos te ver."
11 hrs:

- Era meu pai - ela diz sorrindo - Poxa tá tarde, vamos né?
Ele levanta, vai à sala e começa no vinil: Vida louca vida.
Terminamos, atrasados e fumando com: "Você nem arrumou a cama, parece que fugiu de casa!"
Pode ser inventado, pode ser traquilo, pode ser um teste de sexo com ar de professor e até fruta mordida esse encontrar de corpos que a Tempestade presenciou.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Trois

- Queria que você viesse mais tarde, lá pelas 22:00 quero ler um pouco da biografia do Leminski.
- Tudo bem. Também se não quiser que eu vá sem problemas.
- Não. Quero que venha.

O rosto dele brilhava efeito do calor danado que faz esses dias de começo de ano.
- Entra, entra, quer uma cerveja? Vamos fumar aqui na calçada mesmo. Dá tua bolsa - o braço se surpreende - Pô que você tá trazendo aqui dentro? - pergunta rindo e já entrando, sem se interessar pela resposta.
Duas cerveja nas duas mãos de dedos longos:
- Ah não acredito, você já tirou o sapato. Você tá na rua, vai sujar sua meia.
- Sem problemas. - sua resposta mais geral.

- Ontem foi legal. Havia três anos que não usava nada. Mas não sei, tive um momento pesado no começo. Por que você entra em contato com você né, você fica aberto; e, aberto, tudo te alcança. O Gabriel queria te pegar... Tenho certeza, você é uma menina perigosa.
- Que isso! Entendo seu momento de tristeza ontem, por que realmente tudo fica a flor-da-pele. Mas o Gabriel... Que isso, ele nem olhava pra mim quando eu falava algo, ficou olhando pra você: o tempo todo.

- O quê?! Você tá ficando ainda mais maluca. Ele tava me olhando pra ver a hora que eu ia apagar e ele te beijar. Vocês iam me deixar lá no sofá, te conheço, menina.

- Não acho, acho que ele quer transar com você. Acho não. Tenho certeza!
- Porra, certeza? - ele acendendo outro cigarro. - Acho que quero voltar na casa dele hoje, vamos lá?
- Você quer ele? Liga antes pra avisar.
- Lógico que não, quero pegar um livro lá... Não, vamos sem avisar mesmo.

No sofá do Gabriel, ela sem tênis, meia ou qualquer outra coisa, não consegue ouvir o que eles dizem. Põe- se a ler um livro, o livro que a marcou há uns 5 anos atrás. Que fez ela aprofundar ainda mais o vício na cocaína, "mas agora tô limpa" - dizia ela, sempre que indicava o livro à um novo amigo, flerte, inimigo."A inimiga número 1 dos homens" um filme anuncia. Hoje, ainda hoje, ela mostrará a contra-gosto algo em direção contrária à essa ideia.

Enquanto ele olhava o Gabriel, tentando entender com quem, afinal de contas, ele queria transar, ela mantinha os olhos no livro e Gabriel, por sua vez, tocava vários instrumentos de sopro (com olhos esbugalhados e rosto vermelho) com cara de naturais, nem João nem ela sabiam o nome de um que seja destes instrumentos.

- Ô, Gabriel, valeu pelo livro, pelo som etc, mas temos que ir. - ela já dormia. - Ei, vamos embora... Hoje ela dormiu muito pouco, creio que 1 hora só - explicava ele ao Gabriel, que balançava a cabeça calmamente.

Na rua, eles nada falam. Os corpos se encostam as vezes.
- Ei, escuta, veja se essa blusa é transparente, uso a anos e não sei se é.
- Muda alguma coisa se ela for?
- Não. Não muda nada, continuarei usando.
- Sabia - (os dois riem)

"Entra, entra." Ele faz um café, ela pede pra dormir. Ele abre a porta, ela de calcinha num quase sono, e insiste:
- O café tá pronto, vamos fumar um cigarro lá fora? Ei, ei... vem?
Ela levanta, coloca a calça, e um chinelo que estava por perto. Ele conta, na porta de casa, sobre a terapia, sobre sua ex e sobre seu trabalho. Ela conta dos homens que teve, e de como é bom transar ouvindo Janis Joplin:
- Ah, a bolsa tava pesada por isso, trouxe o computador pra ouvirmos...
- Pra transarmos? - ele pergunta rindo.
- Talvez. - ela responde sem rir.

Fim de cigarro, fim de noite, começo da manhã e indicação.
Eles transam:

- Agora eu entendo, você não nasceu mesmo pra ser de um. Seria egoísmo demais. Não, veja bem, não é machista o que tô dizendo.
Ela, agora rindo: "Sem problemas" - a velha resposta.

O gozo, o vazio, a resposta.
- Por que, você não admite que tá apaixonada por ele?
- Porquê não tô, oras. E além do mais, ele é super conservador, não me entenderia... Acho que no fundo ele nem quer nada comigo.
- Claro que quer. É que você assusta ele... Olha, tô pedindo minhas contas nessa relação a três que você me meteu com o Carlos e acho que você tem que dar um tempo com ele também... Deixar o caminho livre pra quem você tá apaixonada. E meu, pára de dizer que não está, ou que ele não quer nada, porque ele quer sim... Ele olha muito estranho pra mim quando estou ao seu lado.
- Nossa, verdade. Ele olha assim pra todos os caras que saio. Mas já tentei deixar claro que gosto dele. Ele sempre desvia, muda de assunto... Se chamo pra sair, ele chama logo outra pessoa pra ir junto.
- Olha, quem diria que depois de transar comigo, você admitiria que está, enfim, apaixonada. Quem diria, menina, você a Simone de Beauvoir dos trópicos num dilema adolescente.
Terminam a noite, o conto, o gozo: ele com boca trêmula de diversos problemas; ela com olhos que brilham de lágrimas e esperança e sonhará que é penetrada pelas flautas de Gabriel, que encontra-se deitado no chão pensando em como seria bom um Ménage à trois com esses dois. 

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Prólogo

Não existe nada seu, nada meu. Comunhão, comunhão profana. Prólogo ao conto "41 que envolve 36", feito por nós (eu você, todo mundo, todo o mundo, o cosmo e saturno).


-E aí, vamos?
-Ah, acho que não. Tem a mala, tem outras coisas...
-Pega nada, pelo contrário, até gosto.
-Nossa! - um espanto gostoso.

Deixamos a mala. Pesada, faz calor.

-Posso lavar o rosto?

Volta-se a caminhada. Um tanto longa, porém o papo é sempre bom. Velhos amigos e seus planetas e órgãos.

23h20

-Sabe como fazer para o ônibus chegar logo? Acende um cigarro.
-Vamos rachar, assim não se desperdiça.

Logo vem, o mais caro, metropolitano. Maldito Governador!

-Um cara estranho, que não gosta de gente...

Descemos na rodovia, passarela, um casal amigo, "oi".

-Ele é muito gente fina!

Outro ônibus, tão caro quanto o primeiro. Já são 0h00.

-Sempre vejo um conhecido... E aí, Tchê, beleza mano? Hehehehehe...

Um telefonema, uma constatação: vai ser tenso.

A luz dos postes voltou.

-Que bom, finalmente.

Sem fazer barulho. Cautela. Há um sentinela, luz acesa, cuidado com a sombra. Um cigarro, álibi perfeito.

-Vou abrir a porta, você entra, eu fico de olho.

Luz apagada, logo acesa, velho hábito.

-Boa noite.

Noite boa.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

41 que envolve 36

- Nunca fumei um cigarro depois do sexo.
- Como assim? - ela nua, ao seu lado, na janela com seios intumescidos, o olha com jeito incrédulo.
- É pois é! Não sei porquê, acho que as garotas com as quais me relacionei não gostavam de cigarro.
- Pois participarei dessa sua primeira vez - com gesto solene, ela poe-se a procurar na bolsa com garrafa d'agua, isqueiro, caderno, agenda, óculos (de sol e de grau) e uma pedra (que pegou num canteiro de flor em uma madrugada de porre), o maço de cigarro amarrotado (ela sempre dizia: maço sempre... é mais barato, já é caro a beça fumar).
Ele que a olhava com seus olhos apertados e escuros, aceita o cigarro e procura na mesinha seu isqueiro.

- Você sempre corajosa.
- Você sempre maluco.
- "Louco é quem me diz..."
- "E não é feliz" - ela completa.

Os pés 40 enlaçam no 36, ela sempre vira de lado depois do sexo, as outras deitam cabeça no ombro do hombre, envolvem com os dedos os pêlos da barba ou peito. Desprezo? Talvez. Mas desprezo é forte, ela sempre mantem um contato, os pés, uma mão de lado por cima da cintura branca, pintada de pintas, fica ao alcance do toque. O mínimo toque depois do máximo toque.
O máximo pra ela, é o mínimo. Vezes o mínimo o máximo. Todo o tesão não é o suficiente, as vezes é demais. Os mistérios eternos do corpo- alma de mulher, ele os conhece um tanto.

Na manhã seguinte, ela não dispara o "não conta até vinte, te afastas de mim". Por que não com ele? Se já disparou algumas dezenas o adeus poético- sem alma. Ele monta a rede, coloca leite na caneca:
- Vem pequena, que você quer ouvir hoje? - indo em direção ao toca discos.
- Geraes.

O homem do trem, a mulher de cada porto. Um dia se encontram, se mordem, se acariciam e se desencotram, descarrilham. Talvez seguem na calmaria do trem do Geraes, ou no turbilhão do desce-e-sobe das montanhas. O turbilhão.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Distância máxima

Marcelo Galvão, um amigo (terno amigo) de poesias curtas e lindas (como deveria ser a vida), escreve pro Relicário:

distância máxima

deixei sonhar
desejei o luar
desmontei o meu
lugar.

   Capitu dos olhos verdes, sexy sadie de olhos negros. Seus olhos são de fome, não de ressaca. A sua lente me lê: curvas, rugas de sol-idade-preocupação-vida, pintas e joelhos que contam a história. A história nua crua, como "A vida como ela é."
Ela não tem belos romances, nem boa família, nem grandes requintes: sua boa, sua boca é de fome, sua boca é um insulto. Como na música, os olhos com fome fitavam a boca: "A tua boca me dá água na boca" e queria "sugar, bem devagar, gota por gota".
- Vem dançar, vem menina.
- "There was a boy. A very strange enchanted boy"...
Ele a cala, com sede de boca, antes que possa terminar o próximo verso.
Os olhos de criança dele percorriam curiosos o corpo marcado da mulher. As vezes ele aperta os lábios com os dentes enquanto, com as duas mãos, a apertava a cintura. Os dedos dela se metiam na barba, sedentos pelo mistério: a sede sempre é maior quando se tem certeza que o mistério não se mostrará.
- Vem assim.
E ele vinha. Deita aqui: deitados, nus, entre os livros: "Tenho uma queda pelos ditadores". Vai cobrindo o corpo nu dela com livros, informações, preços, endereços: "Pega esse cartão, lá tem livros incríveis."
Ela lhe morde a orelha: "Não se assuste, pessoa, se eu lhe disser que a vida é boa"
Os dois, de pouca certeza, só queriam mesmo saciar a sede, não só de sexo ou de boca, mas a sede de vida. Parece vago? Se lhes parece fácil viver, é porque não viveram. Não foram até o fundo. Não sentiram dor de prazer. Não jogaram. Nem apostaram numa nova cara, numa nova aventura e muito menos no perigo delicioso de viver. Não se viram nunca diante do precipício do prazer. Aventura, era assim que ele chamava a saída na madrugada: "Vamos, eu te pego ai, é uma boa aventura vai!"
A vida sempre pode ser uma boa aventura. A janela suada, um bom dia, um cigarro, um isqueiro em comum, um "quer café? mas assim, é sem café", umas plantas no quintal e assim parte do mistério da vida vivida se insinua entre dois corpos, duas línguas e dentes, dentes que mordem e carne, carne que é quente.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Sentido oposto

   À caminho de um ponto em comum, seguimos lado a lado com pés molhados, num silêncio que me é confortável e te incomoda.
-Acho que não tô sendo uma boa companhia hoje.
   Eu, com o braço encostado na janela do metrô, me viro sorrindo:
-Não, que isso! - pensando que foi um avanço você ter topado o encontro.
-Sabe, detesto chuva, meu pé tá molhado, minha calça... Pô três filmes seguidos: eu vou dormir.
Com certo incômodo (o silêncio me era mais confortável), brinco:
- Você é um velho reclamão.
- É, sou velho.
- Não. Você não é velho. Pensa que é, mas não é.
   A voz do maquinista- máquina (não consigo imaginar nunca o rosto deles) anuncia a estação, a porta a ser aberta. Mas não anuncia, o importante do abrir e fechar das portas de aço (?): vem aí um cara, com pé molhado, mãos ásperas e olhos de um branco amarelado. 
   A mão dele envolve o grosso metal sempre oleoso. Os dedos vão saltitando, ele parece ansioso. Nos olha rapidamente e fita por um longo tempo a porta da outra extremidade do vagão, enquanto eu o fito e faço anotações.
   Você me olha interrogativo, eu digo: - Sabe, não consigo não prestar atenção nas pessoas. As vezes me vejo como um ogro farejando carne humana. Você ouviu o velhinho aqui atrás perguntando se a amiga da filha era feliz?
-Não...
- Pois é. Não importava o que a menina falava, ele perguntava sempre (acho que umas 4 vezes): "Mas ela é feliz?". Agora tô pensando sobre esse cara ai - eu dizia baixo, pra que ele, à nossa frente, não ouvisse.
   O celular toca, ele atende, com um olhar de quase-esperança:
"Como assim? Não! Eu já tô no metrô. Porra, tô com pé molhado." E mais calmo: "Tá bom, tá bom".
Não contenho minha risada, fico vermelha de vergonha por rir. Você não ri, me olha, sempre interrogativo, eu digo:
- Um ogro. Atrás de cheiro humano, já leu Marc Bloch? Assim são os historiadores... - falo pra desconversar, em busca de retomar a cor do rosto, que fora tomada pelo vermelho.
- Ele vai virar conto?
   Somos interrompidos pelo som "próxima estação", ele com olhar de um amarelo ainda mais intenso (oferta do ódio), gira o corpo, sai do vagão e segue no sentido oposto.
Eu digo: - O cara ficou puto!
E você diz: - É, eu preciso deixar de ser assim.
- Assim como?
- Neurótico.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Dois ou três.

Dez e meia, cotovelos na janela, no parapeito de cimento bruto: ela vem. Hoje de cabelos molhados encosta no muro da laje: fuma seu cigarro matinal com um café preto ao lado. Aproveita pra ver se a toalha, o vestido e o cadarço do tênis secou: desapontamento, o tempo não ajuda. Não sei dizer ao certo desde quando a observo, nem quanto tempo fico aqui, observador- silêncioso- secreto, olhando-a.
Ela olha pro chão, pro ceu, pro café, pras unhas da mão, que dessa distância não sei dizer se são grandes pequenas, pintadas, sem cor ou roídas. O tempo do cigarro, é o meu tempo com ela, as vezes ela, caridosamente, fuma dois, três... nunca mais que isso. Tudo bem, pode não ser caridade, deve ser um daqueles dias difíceis que só um cigarro ao acordar não bastam, ou um daqueles dias preguiçosos: nada pra fazer, vamos à mais um!
Queria desenhá-la, não consigo, queria, não sei, mandar um embrulho misterioso até a casa dela, mas veja só, nem sei o nome da rua, seu número, seu nome... Sim, eu poderia descobrir, mas prefiro não dar de cara com um marido, ou uma mulher. Ela é mistério e eu, aqui a observando, sou parte desse mistério de mulher. 
As vezes tenho a impressão de que, na verdade, ela é quem controla esse jogo. "Ás dez e meia ele está na janela, com que roupa subo hoje?" Fica ali posando, pra um completo desconhecido. "Hoje um cigarro, não vou dar muita bola. Será que hoje ele faz um sinal, um "olá" gritado, rasgando o vento, as ondas do ar, vou fumar mais um, quem sabe ele toma coragem!"
Ou talvez eu nem seja um desconhecido, talvez ela, com mais coragem que eu, tenha vindo até a rua de trás, ver o nome e tentar matemáticamente ou não, descobrir minha casa, meu número.