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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

41 que envolve 36

- Nunca fumei um cigarro depois do sexo.
- Como assim? - ela nua, ao seu lado, na janela com seios intumescidos, o olha com jeito incrédulo.
- É pois é! Não sei porquê, acho que as garotas com as quais me relacionei não gostavam de cigarro.
- Pois participarei dessa sua primeira vez - com gesto solene, ela poe-se a procurar na bolsa com garrafa d'agua, isqueiro, caderno, agenda, óculos (de sol e de grau) e uma pedra (que pegou num canteiro de flor em uma madrugada de porre), o maço de cigarro amarrotado (ela sempre dizia: maço sempre... é mais barato, já é caro a beça fumar).
Ele que a olhava com seus olhos apertados e escuros, aceita o cigarro e procura na mesinha seu isqueiro.

- Você sempre corajosa.
- Você sempre maluco.
- "Louco é quem me diz..."
- "E não é feliz" - ela completa.

Os pés 40 enlaçam no 36, ela sempre vira de lado depois do sexo, as outras deitam cabeça no ombro do hombre, envolvem com os dedos os pêlos da barba ou peito. Desprezo? Talvez. Mas desprezo é forte, ela sempre mantem um contato, os pés, uma mão de lado por cima da cintura branca, pintada de pintas, fica ao alcance do toque. O mínimo toque depois do máximo toque.
O máximo pra ela, é o mínimo. Vezes o mínimo o máximo. Todo o tesão não é o suficiente, as vezes é demais. Os mistérios eternos do corpo- alma de mulher, ele os conhece um tanto.

Na manhã seguinte, ela não dispara o "não conta até vinte, te afastas de mim". Por que não com ele? Se já disparou algumas dezenas o adeus poético- sem alma. Ele monta a rede, coloca leite na caneca:
- Vem pequena, que você quer ouvir hoje? - indo em direção ao toca discos.
- Geraes.

O homem do trem, a mulher de cada porto. Um dia se encontram, se mordem, se acariciam e se desencotram, descarrilham. Talvez seguem na calmaria do trem do Geraes, ou no turbilhão do desce-e-sobe das montanhas. O turbilhão.

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