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terça-feira, 2 de abril de 2013

Azul - Vermelha.

Uma mochila pesadíssima, uma bolsa a tira- colo colorida, e eu, com costas doloridas pelo peso, cruzo o caminho, as paralelas de uma senhora de cabelos curtos e boca cor-de-rosa. Ela, a senhora, sorri e eu o retribuo com outro sorriso até que a porta do metrô abra e, em meio a dança de pessoas em disputa de um banco marrom, sentamos frente-a-frente.
A partir desse momento, do "sinal de fechamento das portas" é como se para ela eu não existisse mais. Existo, é claro, ou talvez... Mas não como protagonista dessa cena. A senhora, nervosa a beça, começa a fazer careta de desgosto para as informações da tela do metrô e dos anúncios fixados nas paredes do vagão. Se pergunta: "Tudo bem?" e se responde: "Oh sim, sim! Vamos indo."
Um homem de gravata e mala entra. Mal senta no banco quente recém livre e já saca papéis com planilhas, traços e números. Ela: "Hum. Um advogado... Não, não! Um gerente. Isso!" Uma mulher entra e traz consigo, junto ao peito muito pequeno, uma sacola de feira, com panos dentro. A senhora, descaradamente a encara e ela, por sua vez, nem percebe o olhar analítico da velha senhora com boca cor-de-rosa: "É uma mãe... Três filhos." - com rosto triste: "... E um marido bebado."
A essa altura você pode se perguntar: e falava alto a senhora?
Não sei. Sei que era audível pra mim, e assim deveria ser. Faz mais caretas, gesticula muito e olha à todos, menos à mim. Em nenhum momento, após o inicial sorriso na plataforma, ela tenta me analisar. Todos a olham, mas o curioso é que os olhares dela não encontram de forma alguma o de ninguém. Ela, sentindo-se invisível/ imperceptível em sua analise acerca dos outros passageiros e eu, sentindo-me igualmente invisível/ impeceptível analisando e escrevendo sobre ela, descemos. Ela na Praça da Árvore, eu na Sé.

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