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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Vamos.

Aqui te esperando, com uma hora de antecedência observo o amor, como o observador de "O amor bate na aorta", de Drummond. Que do alto de algum lugar tece considerações acerca do bicho instruído e encantador que chamamos, inutilmente, de amor.
De pé e com vontade contida (pela lei do transporte público) de sentar, fico, a princípio impaciente com a hora que demorará pra passar, pois nem ao menos um cigarro posso acender. Dois homens de amarelo despedem-se em minha frente, olho por olhar, eis que vejo que se trata de um casal, que como eu, com vontade de me esparramar no chão de pedra fina, se contiveram na despedida: um tapa nas costas, aperto de mao londo com corpos timidamente encostados. Quando eles querem, na verdade, esparramar o amor, o beijo e a saliva sem medo de olhares estranhos.
 Uma fome enorme, acordei de ressaca e mal consegui fazer descer o pão. Por algum motivo nesta manhã pensei ter um filho na barriga. Um filho teu, coisa que você não quer. "Bobagem", pensei no instante seguinte ao forte enjoo matinal, é ressaca e ponto.
Mas não é sobre mim que escrevo. Sou aqui um obseervador do amor, entretanto, precisarei novamente me colocar nessa história. Estava falando na fome, e ao sair da estação de metrô dou de cara com um amor desgarrado, pouco verdadeiro. Um amor que corrói, enquanto por natureza é corroído e que tem por amigo inseparável a aparência que esconde a vontade de pôr inseticida na comida um do outro.
Um casal sorridente e loiro, uns 40 anos, entra no shopping, na qual fui comprar uma coxinha e um café, sorrindo, sorrindo muito. Não um para ou do outro, mas os dois (separados) para os outros.: volto descontente com o amor reprimido do casal homossexual e com o amor plástico do casal de cera.
Olho em volta, nada de você, já se passaram uns 25 minutos. Uma menina de uns 16 anos espera impaciente alguém. Dez minutos: ela chega, era sua companheira, se beijam, se abraçam e não sentido Jabaquara de mãos dadas e sorrido aberto. Sorriso de criança, Coragem de adulto.
Observando esse amor nem vejo quanto tempo decorreu. Penso nas duas meninas: sempre quis transar com uma mulher, mas nunca houve essa mulher, mas há uns dias atrás que vi olhando a Betina com olhos diferentes.
O amor, o desamor e o amor plástico se misturam em minha cabeça me causando um mister de sentimentos, um turbilhão sensorial, que me entra pelos olhos e instalam-se em algum canto do cerébro. Uma nova onda de passageiros surge do subterrâneo e você vem entre eles: guarda- chuva em mãos, mochila nas costas, sorriso com dentes de criança na boca: me beija levemente e olha interrogativo para os papeis desse conto, respondo: cheguei cedo demais e vi coisas demais.
Você sorri e encosta em meu ombro e diz: - Vamos?

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