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domingo, 27 de março de 2011

Vem, querendo ir embora.

Vem mudar o fim da história... Escrevo num pedaço de papel. É pra você que escrevo, mas não irá chegar até você. Corto o abacaxi em cubinhos e coloco uvas passa, o médico recomendou... estou bem mais gordo. Queria muito por leite condensado pra acompanhar, mas agora minha namorada é natureba, e fica no meu pé. Hoje é domingo, e você passaria a tarde aqui, colocaríamos um filme como pretexto e faríamos amor até os créditos passarem mil vezes. Depois ouviríamos Janis Joplin, eu dançaria e você daria risada. Agora lembrei da tua risada, parecia de bebê... Mas seus dentes andavam amarelos por conta do cigarro. Agora eu fumo querida. Nem posso mais te repreender...
E como será que vão as coisas por ai... Dizem que a Hungria é bonita. Que diabos alguém faz ai? Por que não admite que tem medo de amar? E assim que eu ia te chamar de minha namorada, você pulou fora. " Congresso de poetas na Hungria. Sinto muito, mas desde o início deixei claro, que não anularia nenhuma experiência, por qualquer tipo de relacionamento." Qualquer tipo de relacionamento? Como assim? Era amor. Tem algo maior? Uns poetas mal sucedidos e alcoólatras são mais interessante do que beber desse amor que te ofereço? Tá bom, tá bom... Eu prometi não falar mais sobre isso. Mas o amor é tão grande. Poxa, queria muito te mostrar.
Não se preocupe, não quero mais me matar, nem te matar. Estou indo muito bem. Comprei ontem uma pólo, lembrei que você achava bonita. As que você me deu infelizmente doei num momento difícil. Falando nisso já arranjou alguém pra passar o tempo? Bem provável, e, sinceramente não quero resposta. Queria pedir pra você usar aquele casaco que te dei... Lembra? Um roxo, quadriculado. Você adorava coisas quadriculadas... Credo, disse como se você estivesse morta.
E se estiver? Quem irá me avisar? Tomara que você tenha anotado em algum caderno meu endereço ou meu telefone. Um dia um estranho me telefonará ou me ligará comunicando sua morte. Morrer na Hungria... Do que você morreria? Atropelada... não... Já sei, você iria se apaixonar, acharia ele um máximo, poeta enfim... essas coisas que você gosta. E quando ele estivesse te amando você diria: " Querido tenho um congresso de pintores no Cazaquistão... Deixei claro desde o começo que não anularia nenhuma experiência por nenhuma espécie de relacionamento..." E ele tentaria argumentar: " Eu vou com você... Não tenho nada a ganhar aqui, e nem a perder lá. Mas eu te acompanho por que te amo." Mas você não deixaria espaço para os argumentos dele, e iria empurrá-lo pra fora do quarto dizendo: " preciso arrumar as malas, o voo sai daqui a uma hora. Foi bom te conhcer." Ele sairia a contragosto, segurando as lágrimas de ódio e tristeza. Você arrumaria suas malas,e na saída do prédio, ele iria te esperar para te assassinar a facadas.
Mande notícias, mas não responda à pergunta.

5 comentários:

  1. Você fez, no meu entender, uma interessante inversão de Budapeste do Chico Buarque. Uma paródia, uma coisa de meta-linguagem, sei lá, você que é de congresso de escritores é que entende.Ele fica cortando seus cubinhos pretensisosos cassim como Picasso pintava quadros com cubos. Não é a toa que o obesinho imagina : ela vai pular de um congresso de escritores para artistas plásticos, um abacaxi cubista para o novo amante dela. A escrita de Dani foi quem deu a idéia pra ele pensar nas artes plásticas e na inquietação dessa mulher, que ele quer tratar como se ela já estivesse morta. E neste conto Dani você ilustra o que sempre falo do Chico Buarque : não é o intérprete da alma feminina, é o cara que conta e canta a dor dos homens que se apaixonam. Pobres de nós! No Aeroporto, ela pra Londres,ele Budapeste.No seu conto, ela vai,ele fica. E a gente pensava que iam juntos,como no livro do Chico. . Não vão. Nunca irão. E o obesinho está certo : ela vai inventar um congresso de artistas plásticos, vai argumentar como a Vanda e o húngaro babaca vai ter que jogar o prato de macarrão na parede. E o pior : sem ter nenhuma Kriska pra limpar, vai ser ele mesmo. Eu achei o teu conto um recanto da maldade feminina. Do triste desencontro dos encontros que perdem o encanto e o canto onde se aninhavam, ou o canto de Joplin, ou o amor gostoso enquanto o filme passava, rebobinava, enquanto na frente da Tv ia e voltava em looping a sequência de tesão e fúria amorosa.Sinto que ele deseja a morte dela, receber o recado de que o húngaro a esfaqueou, não teve o comportamento “políticamente correto” de um brasileiro babacamente apaixonado. E que não quer saber nem da resposta se ela já encontrou “alguém pra passar o tempo”. O ciumento apaixonado inventa amores e tragédias. É uma avestruz de cabeça enterrada no próprio delírio da imaginação. É o que resta na imensa solidão que todos nós somos.

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  2. Minha mania de voltar: quero completar dizendo que este conto de Dani me agradou como leitura e como estrutura literária, como toques referenciais à literatura (Chico Buarque) e às artes plásticas (Picasso e talvez outros. Acho que fui in justo com o personagem chamando de obesinho. Digamos que seja um quase-obeso. Que por fatalidade achou de namorar com o mais chato tipo de mulher :a natureba,como que como toda natureba se alimenta da pasta básica industrial e transgênica,achando que tem alimentação saudável. E sempre arrasta um infeliz junto. Por que os homens não conseguem logo se livrar das fatalidades e a mulher consegue ?

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  3. Uau significa que vc gostou? hasduhasd :]

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  4. Quem disse q as mulheres conseguem livrar-se das fatalidades?

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