Powered By Blogger

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Les jours triste,

21:59 E ela ligou. Com alguma esperança dele atender e ela começar a conversa: - Pensei que não fosse me atender...
Ele ficaria em silêncio, e ela não teria o que dizer. O que dizer nessas horas? Já havia demonstrado toda sua fraqueza, já usou todos os artifícios mais mentirosos. Tenho outro! - ela disparou pra assustar. Mas não adiantou, nada adiantará. O amor nele estava morto. O tempo, os prédios, os quilometros, e principalmente o crescimento matou todo o amor, que era fresco, que era infantil, que era duro, que era forte. Era forte, era forte. Era, era... Foi.
Foi, agora tudo pertence ao passado. E ele disse: confia no futuro. Como? E o pior é que ele realmente acredita no futuro. O futuro? O dela é bonito; pena que ainda não o sabe. Mas ele é próximo, e não envolve amor. Amor é coisa ruim, cobra espaços que hoje pouca gente dipõe. E disputa tempo com o mundo, porquê o amor não pertence ao mundo. Amor é imaginário, e faz parte das doenças mentais.
O telefone toca. Seria ele arrependido?
- Pronto. - ela atende forçando, um pouco, uma voz triste.
- Opa, tudo bem? Posso falar com o Beto?
- Não tem nenhum Beto aqui não cara!
- Ah, tá bom.
O canto da cama onde ele sempre ficava estava ali. O canto da parede onde se amassavam estava ali. O chão onde muitas vezes se amaram estava ali. A prateleira que ele sempre arrumava estava ali. Tudo estava ali, menos ele. As folhas tomavam conta do quarto, isso fazia ela um pouco feliz, pois assim alguma coisa nova fazia parte do cenário. Alguma coisa ali traía a fome que as lembranças tinham de ficar.

Um comentário:

  1. O mistério do título eu não consegui decifrar. Um amor na aula de francês de Tiê , a moça apaixonada por um francês ?O plural francês, os dias que passam sem que ele telefone, e o singular em português: ela triste. Criando e recriando diálogos até com tom de voz apropriado para representar tristreza como sinônimo de amor.
    Os personagens sem nomes. A reflexão sobre um amor já morto, jogado por um homem para o futuro, e ela já vendo bonito o futuro dela, mas ela quer um futuro presente, agora, com espaço para o amor, sem disputas com o mundo.”Mundo mundo,vasto mundo;se eu me chamasse Raimundo seria rima, não seria solução. Mundo,mundo,vasto mundo, você é grande,é enorme, maior é o meu coração” (Carlos Drummond de Andrade). O coração dela maior que o mundo dele. O coração dela recusando a objetividade e a praticidade do mundo, a contingência, a facticidade. E contrapondo o amor como imaginário (saída mágica,segundo Sartre) e até como doença mental, mas daquela doença mental capaz de dissolver a concretude do mundo, como Foucault falaria da loucura e dos anormais. Danielly Teles afasta Maitê e incorpora Clarice Lispector. Saravá, Clarice. Tua felicidade clandestina , tua via-crucis do corpo continua perto do coração selvagem de uma jovem escritora como Danielly Teles. A frase final deste conto é existencialmente linda.

    ResponderExcluir