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domingo, 26 de dezembro de 2010

Olhares, ervas, inferno.














- Eu era pequeno, tinha 4 anos meus pais viviam um casamento feito de olhares frios, com pinceladas de palavras secas, quase sempre dentro de frases rudes. Não me lembro como isso começou, em minha memória só existe a imagem das brigas, no princípio discretas -dentro do quarto. Depois as discussões escorreram pela casa, como erva daninha em terreno abandonado. E de fato o terreno estava abandonado. - Bento relembrava enquanto acendia o cigarro.
- Não precisa me falar de coisas difíceis.
_ Diga a verdade! Você nem liga! Não quer me poupar das lembranças e sim poupar a você.
Ficaram os dois olhando a rua pela janela, e por alguns minutos só a respiração dos dois era audível.
-O inferno são os outros. -disparou ele sem nenhum propósito.
- Você me irrita com essa sua intelectualidade. Sartre e você vão a merda!
Ela acende o cigarro. Ele pega as chaves e sai pela porta.
- Tudo isso, como sempre, não levará a nada. - Falava sozinha enquanto colocava agua na chaleira

2 comentários:

  1. Daniii: tá bem que você ache seus textos imaturos ou prematuros.Me permita discordar,amiga. Acho que eles são maduros, não todos,mas a maioria (os que não são totalmente maduros trazem a semente da maturidade precoce.) "Olhares,ervas, inferno" : diálogo ágil, situação sufocante num curto espaço e num tempo mais curto ainda.Lembra o melhor de Dalton Trevisan. O momento do tédio,do desgaste e das briguinhas de casal pequeno-burguês, é mais ,muito mais que ervas daninhas que se espalham. Pra mim, o conto começa no fim. Me deu a impressão que a água da chaleira ferveu e foi jogada na cara de quem lê. Portanto,mais do que ervas que se espalham, mas água quente fervendo na cara do leitor. A gente só sente a queimadura depois que o conto termina. Aí percebemos que o começo estava no fim. Tarde demais. A irritação da personagem reagindo de pronto à citação de Sartre revela uma situação-limite,ou o limite da situação. Sem sursis. Só muro e náusea. Daí eu acho que ela jogou a chaleira fervendo na cara de quem ficou,ou seja,o leitor.Daniii, entre o masoquismo e o sadismo sempre preferi o sadismo. Por isso que a crueldade desse pequeno texto me fascinou tanto. É um conto indigesto escrito por uma mulher, uma escritora muito precoce, que não merece tijolada na testa.Muito pelo contrário. Meu abraço de fã.RobertoMenezes.

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  2. gostei da citação do " entre quatro paredes", do texto também.

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