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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Volta elefante, volta vacilante.

   Esse poema, marcou muitas fases da minha vida, e já atribui a ele muitas interpretações. Diria que é um poema que se encaixa onde eu quiser, já o li feliz, triste, com raiva e com luz. Enfim, agora o coloco aqui, pra marcar uma nova fase da minha vida, hoje pela manhã eu li ele com a alma leve e feliz, de peito e sorriso aberto. Adoro elefantes, é uma coisa desde criança, acho que começou com o rei Babar, e depois agreguei outros motivos pra gostar tanto deles.






Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.

E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.

Eis meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê nos bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.

Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo sozinho.
É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há na cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.

Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos,
esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.

E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.

Um comentário:

  1. Que lirismo, que encanto. Roberto Rossellini no filme "Índia, terra Mãe"(1952)filma os elefantes como seres humanos.Parecem extra-terrestres. É um olhar com muita ternura. O documentário é tradicional,mistura um pouco como ficção,mas o jeito como Rossellini filma é sublime. Diante desse elefante construído eu gostaria de descontruir a minha vida. Agora sim, que consegui postar uns comentários pelo Google, posso falar que amei o seu blog. E olha que entrei agora há pouco, só vi as postagens recentes, mas vou vasculhar mais. É a tua cara,olhos velhos. E eu queria me descontruir: ao invés de ter 101 anos, ter 80 anos a menos. Teria 21 anos e derrubaria o mundo pra ser seu namorado. Entenda :não é cantada, é excesso de admiração.Nunca espere cantada de mim,que não sou vulgar.Poderia seduzir,mas "cantar"nunca. Mas como dizem os personagens nos filmes de Visconti : " aconteceu tarde demais".Mas a palavra "demais" se estende nesse espaço e te acompanha : Danii, bela mulher, companheira nas artes, amiga no Orkut, seu blog é demais! Olha o "demais" voltando,mas de forma positiva. Recebe meu beijo no seu coração e toda a alegria que sinto na retomada dessa amizade. Esse blog é um presente.Levantou o meu astral nesse domingo dominado pela mediocridade,. Beijo,daniii. RobertoMenezes.

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