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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Like a rolling stones

   Ouço gritos, vozes confusas e gritos, e não sei de onde eles vem. Agora ouço nitidamente, é uma voz aguda, e parece que vem de mim, como se eu tivesse escutando algo no meu interior. Mas essa voz não é minha voz.
   Como pode, eu aqui, dentro deste apartamento escuro ouvir esse som angustiado? De onde vem essa dor?
   É a tortura e a privação. São os documentos falsos e a pólvora em mãos boas, mãos que sonham e que lutam. Mas que bobagem isso! Que ideologia é essa? Ele não tinha que fazer isso, deveria calar-se, pois, no fim de tudo isso, voltaríamos a rir, beber, e ler Rimbaud.
   Por que você escolheu ir na linha de frente, a antiga linha da esperança e futura linha da morte. Me deixa em paz, o que eu tenho com isso? Quero dormir, mas a sua imagem morta não sai de minha mente: você caído em meio às pessoas, com o rosto desfigurado, e também com uma mancha de sangue no peito, é um tiro.
  Fecho os olhos, num esforço inútil de me ver livre dessas vozes e da sua imagem, mas você vem de novo. Não adianta, não quero e não vou te acompanhar nessa loucura. Você está na zona do crepúsculo, sua morte é certa, mas não quero pensar nela, não quero isso. Tentei tantas vezes trazer você de volta pra casa. Mas percebi que a sua luta é muito maior que o amor que tínhamos.
   Ouço um disparo. E um grito rapidamente abafado, tenho uma sensação de terror, escuto agora murmúrios e um riso demoníaco. Abro os olhos. Foi um sonho? Não, você está morto, eu sei. O telefone toca.

2 comentários:

  1. É o monólogo dos bastardos inglórios do Brasil. É o monólogo que sente o sufoco no ar e as pedras atiradas em cada pensamento. É um texto estranho. E político. E existencial. Um texto "out of joint", como no Hamlet.Não sei se beleza e angústia podem se dar as mãos. Mas em mim ,ao ler o seu texto, se deram as mãos e se esconderam c´~umplices no desvão do ser".

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