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sábado, 29 de outubro de 2011

Mas as almas não.

O telefone toca, Ana estende a mão preguiçosa para alcançar o pesado telefone antigo. "Deve ser mais uma beata chata perguntando se a hernia da vovó melhorou."
- Ana? - a voz do outro lado da linha insegura tentava contato.
De pronto ela reconheceu a voz, e o simples "Ana?" trouxe muitas lembranças, levou-a ao passado recente que cada vez mais era um passado distante.
- Ela mesma. Quem é? - dissimulando saber quem era.
- Sou eu, Marcos... Eu sei que talvez te telefonar não tenha sido uma boa coisa. Mas depois de todo esse tempo pensei que a gente podia conversar. Eu queria mesmo te ver, saber como andam as coisas.
- Estamos muito distantes, Marcos. E também acho que não foi bom você telefonar. - coçava a cabeça enquanto falava.
- Que isso Ana? Moramos na mesma Cidade. Acho que somos adultos, e já tivemos tempo o bastante pra superar essas besteiras.
" Besteiras?" ela pensava.
- Está distante de mim. Você não entende?
É triste, mas quando o ponto de referência é o "eu" ele é móvel. Quando algo é distante do "eu" nada aproxima, o distante torna-se enorme, e nada: andar, correr, voar, levar... nada fará o distante virar perto. Porquê a barreira não é física, não é disposta, nem quebrada. É permanente. Nada muda a condição distante. Nada.
- É como que se eu fosse ao seu encontro esmagaria as bochechas numa parede de vidro.

Um comentário:

  1. O forte deste conto é a noção de espaço existencial,quando existe um desejo flutuando.
    Belo registro de um momento, na visão de uma mulher.
    Já fora deste comentário, aviso que deixei mais duas postagens. E fiquei surpreso com a resposta do Lazlo Kovacs que eu não tinha visto. Enfim, ele chutou fora. Nenhuma paixão pela escritora e sim pelo que a mulher escreve. Nenhuma ostentação cultural e sim citações que fazem parte do repertório da escritora, em várias conversas trocadas. Mas já passou.E de passagem estou de novo opinando.De passagem. E sem críticas pessoais, sem nenhuma paixão , enfim, como um pedaço de gelo que virou parede de vidro.Mas nada impede de reafirmar : admiro muito o seu talento como escritora de contos.

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